Seguidores

segunda-feira, 7 de março de 2011

Paul Ricouer e a história


Desde sete anos, este é o primeiro carnaval que passei distante de Campina Grande. Acompanhei apenas a programação pela web e, realmente, tive muita vontade de estar presente no já consagrado Encontro para a Nova Consciência, que acontece todos os anos. Trata-se de um evento que procura agregar, por meio de uma programação cultural, as pessoas que não são muito adeptas dos festejos tradicionais de Momo. Mas o que fazer para passar o tempo em uma cidade que ainda permanece como estranha, em muitos aspectos, para um forasteiro, como Florianópolis? Apesar de ter arriscado algumas incursões breves pelas áreas carnavalescas da urbe, ler me pareceu a coisa mais sensata.

A biblioteca da UFSC tem me proporcionado excelentes momentos. Antes do recesso de carnaval, pude pegar o livro História e verdade, do filósofo francês Paul Ricouer (1913 - 2005), publicado no Brasil em 1968, pela Editora Forense. Creio que seja bem importante perceber como Ricouer aborda a escrita da história a partir da ótica da filosofia da linguagem, motivado, sobretudo, por inquietações de ordem ética e como o citado pensador trouxe a tona para o debate sobre história e verdade, conceitos e posicionamentos que podem auxiliar os historiadores a resolverem diversos impasses teóricos próprios dessa forma de saber.

Segundo Ricouer, o historiador reconfigura o passado, coloca a questão da dívida histórica e moral entre mortos e vivos em discussão e abre expectativas para um futuro mais pleno, no qual os crimes e as formas de violência sofridas pelas pessoas no passado não se repitam. Quando o historiador atenta para a carga de intencionalidades que possui e o quanto elas afetam sua própria relação com seu objeto de pesquisa não está deixando de construir conhecimento, mas sim tomando consciência da dimensão humana de seu ofício. Esse senso de humanidade, ou sensibilidade, também presente no labor do escritor literário, encontra no plano textual um terreno fértil, pois se deve levar em conta que toda escrita, sendo antes de tudo, um artefato cultural, carrega implicações políticas.

Fica a dica de leitura para aqueles que almejam conhecer os textos desse grande filósofo contemporâneo, que teve a ousadia de repensar as relações entre História e Filosofia sem abrir mão de inserir no debate aquela velha questão do papel orgânico dos intelectuais, tão ridicularizada pelo ceticismo dito pós-moderno.

Referências:

RICOUER, Paul. História e verdade. Tradução de F. A. Ribeiro. Rio de Janeiro: Forense, 1968.