Seguidores

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Paulo Bezerra, orgulho da Paraíba.


Paulo Bezerra é o responsável pela díficil realizada diretamente do russo para o português das obras de Dostoiévski. Até então, os leitores brasileiros tinham de se contentar com a tradução feita por Rosário Fusco da obra Crime e castigo, porém do francês para nosso idioma. segundo o próprio Paulo Bezerra (In: DOSTOIÉVSKI, 2001, p. 07), no prefácio da edição do citado romance, publicado pela Editora 34, a tradução da tradução feita por Fusco é elegante, porém "saiu fortemente marcada por muitos elementos característicos da língua e da literatura francesa e do próprio modo pelo qual os franceses costumam traduzir obras de autores russos".

Em termos metodológicos, Paulo Bezerra buscou e conseguiu ser fiel ao texto em original de Dostoiévski na medida em que primou até por conservar o ritmo da fala dos personagens, as falas aparentemente desprovidas de sentido - que já foram consideradas como imperfeições narrativas - que aparecem no romance e a linguagem coloquial e acessível do escritor russo. Diferentemente do culto as belas letras presente na literatura francesa, Dostoiévski buscou, de forma consciente, romper com essas formas dominantes da literatura de seu tempo.

Em uma entrevista ao Jô Soares, Paulo Bezerra compartilhou conosco a história do caminho que trilhou para se tornar um acadêmico reconhecido nacionalmente. Paulo foi um, dentre tantos outros paraibanos (entre os quais, os próprios pais do Jô Soares), que deixaram o torrão natal em busca de melhores oportunidade em São Paulo. Se envolvendo com o movimento operário em plena ditadura militar, refugiou-se na Rússia onde aprendeu o idioma falado naquelas estepes - como conta de forma bem humorada - da melhor maneira possível através de uma namorada nativa. Ter convivido com o russo escrito e a língua falada no cotidiano pelo país fez toda a diferença para que esse homem de letras se tornasse a principal referência brasileira no tocante a compreensão de Dostoiévski.

Nos depoimentos que achei nas redes sociais, a simplicidade do professor Paulo Bezerra é sempre citada pelos seus alunos com admiração. Também é justamente essa a impressão que me ficou sobre sua conduta quando assisti sua entrevista. As falas de Paulo Bezerra transbordam um humanismo generoso, ressignificado e atual. Éis a grande lição que esse mestre nos transmite sem fazer alarde: as leituras e os estudos que realizamos nessa busca pelo significado dos dramas e alegrias que preenchem a existência humana precisam servir, pelo menos, para fundamentar uma postura ética pessoal pautada no respeito ao outro. Tantas leituras e citações de nomes de autores estrangeiros de nada servem se o sujeito não sabe cumprimentar ou oferecer um voto de cordialidade ao seu próximo. Assim, já integrando a nada pequena lista de paraibanos ilustres que figuram no rol dos grandes vultos nacionais, Paulo Bezerra, natural da cidade de Pedra Lavrada - onde passei bons momentos de minha infância - é o emblema vivo de que por essas áridas paragens existem inúmeras mentes férteis.


Referência:

DOSTOIÉVSKI, Fiódor. Crime e castigo. Tradução e prefácio de Paulo Bezerra. São Paulo: Editora 34, 2001.


Entrevista ao Jô Soares: