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Bom, mas este tópico seria para falar sobre o poeta Rilke (1875-1926), nascido em Praga, quando esta fazia parte do Império Austro-Húngaro. Melhor especificar... A questão que me urgiu foi a de falar sobre a correspodência de Rilke e não sobre a sua figura. A recomendação que faço para quem gosta de literatura é que, claro, conheçam desde os livros clássicos até os mais obscuros de seus escritores favoritos e, sobretudo, procurem se informar se esses autores tiveram parte ou toda a sua correspondência publicada. Os romances são algo destinados a um grande público leitor, exigente ou não, mas nas cartas, um tipo de escrita pessoal e intíma aflora entre duas pessoas que,possivelmente, jamais imaginariam que estes escritos fossem publicados. Por isso, talvez, nada melhor que conhecer as cartas que um literato escreveu para conhecer melhor suas ideias.
Sendo assim, recomendo a leitura de Cartas a um jovem poeta, de Rilke, traduzido por Pedro Süssekind e publicado pela L&PM. Trata-se de cartas trocadas entre o poeta Rilke e um jovem chamado Franz Kappus que ambicionava ser poeta. Um raciocínio, em especial, me chamou a atenção, feito por Rilke sobre a questão da ironia na escrita. Bom, para o poeta a ironia nunca consegue dar conta daquilo que é realmente grandioso em termos humanos. Diante de assuntos grandes e sérios, ela se torna desamparada. Porém, quando motivada por "coisas sérias" ela poderá ganhar "força (se lhe parecer como algo inato) e se converterá em uma ferramenta séria" (RILKE, 2008, p. 30). É dessa forma que, na literatura brasileira, escritores como Lima Barreto e Machado de Assis conseguiram falar de coisas graves com um tom jocoso que de tão pertinente, continua deixando seus escritos atuais, como a reflexão de Rilke.
Só posso complementar que diante da proliferação de textos prolixos e intelectualmente medíocres, sejam impressos ou virtuais, que assolam estantes e sites, coisas que fariam qualquer Bruna Surfistinha ser digna de uma cadeira laureada na Academia Brasileira de Letras, a atualidade de Rilke fala mais alto. Um historiador que gosto muito chamado Vidal-Naquet já tinha afirmado em Os assassinos da memória, se referindo em relação à aqueles que negam a existência de Campos de Concentração nazistas, que nunca faltará séquito para todo tipo de forma de pensar maldosa e estúpida. É amparado por essas referências que digo que ainda precisamos refletir muito sobre a pertinência contemporânea de Rilke.