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Acredito que em breve o site da Editora Multifoco (http://www.editoramultifoco.com.br/#) já terá disponibilizado o livro em sua loja, para os interessad@s que não residem em Florianópolis. Apenas posso afirmar que este livro é fruto de uma pesquisa apaixonada e integral sobre as relações entre História e Literatura na Primeira República. Reproduzo aqui um trecho do valioso Prefácio escrito pelo Denilson Botelho:
"O leitor que pretende conhecer o Rio de Janeiro da Belle Époque como se entrasse na cidade pela porta dos fundos tem em mãos o livro apropriado. Nas páginas que seguem, constrói-se um olhar arguto sobre a Capital Federal do início do século XX a partir de um lugar muito singular: a 'Vila Quilombo'. Essa expressão foi utilizada por Lima Barreto para designar a sua casa, situada no subúrbio carioca de Todos os Santos. Numa crônica publicada na Gazeta de Notícias, no mesmo ano do seu precoce falecimento, em 1922, justificava o epíteto: foi 'para enfezar Copacabana'.
Joachin Azevedo Neto capta no seu texto toda a eloquência dessa expressão. Porque afinal, é uma expressão bastante eloquente e disso não resta dúvida. Senão, vejamos. O subúrbio de Todos os Santos é lugar peculiar que molda o relacionamento do escritor com a cidade. Aquele bairro distante em que viveu durante praticamente quase toda a sua vida adulta não era lugar frequentado pelos literatos e intelectuais da época. Deixar sua casa todas as manhãs, percorrer as ruas até a estação de trem, no qual embarcava rumo ao centro da cidade espremido com a gente simples e pobre que foi progressivamente se instalando às margens da Estrada de Ferro D. Pedro II, era como experimentar cotidianamente os efeitos concretos das reformas urbanas em curso na época.
Uma coisa era escrever sobre a modernização e o embelezamento da região central da capital sob a ótica dos que desfrutaram desde a primeira hora dos seus benefícios, como foi o caso de boa parte dos literatos que circulavam pelos arredores da Rua do Ouvidor. Luis Edmundo, por exemplo, que o diga, pois foi um dos entusiastas mais eufóricos do bota-abaixo. Outra coisa era experimentar na própria pele, diariamente, a condição de ter sido expulso das áreas nobres da cidade e ir, inevitavelmente, instalar-se nas proximidades da linha do trem, meio de transporte que, pelo menos, garantia o acesso ao trabalho – e à sobrevivência - no comércio ou repartições públicas do Centro. Percorrendo ruas mal acabadas, sem qualquer tipo de urbanização ou infraestrutura, Lima Barreto urdiu boa parte de sua crônica, que o autor desse livro habilmente transforma em objeto de reflexão. É sobre o Rio da pobreza, da miséria, das brutais desigualdades sociais e da exclusão – aspectos ainda assustadoramente atuais – que o 'mulato de Todos os Santos' escreve."
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Denilson Botelho
(Doutor em História pela UNICAMP e
professor do Dept. de História da UFPI)
(Doutor em História pela UNICAMP e
professor do Dept. de História da UFPI)