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Jeanette Rozsas capta e narra com muita sensibilidade as agruras enfrentadas pelo escritor judeu ao longo do convívio com o pai autoritário e capitalista; sua amizade com Max Brod; as reuniões com os amigos nos cafés de Praga para discutirem filosofia e literatura e as angústias amorosas enfrentandas pelo sensível e esquálido escritor. A imagem pintada por Rozsas de Kafka é a de um ser humano, como qualquer outro... terrivelmente sensível, por razões intelectuais e étnicas, em um mundo de mercadores grosseiros e preconceituoso contra as minorias. Uma sociedade, por assim dizer, pré-fascista e nazista. É esse o universo que compõe o cerne das narrativas de Kafka sobre o sofrimento humano.
Em um dos seus desaforismos, Kafka (2010, p. 27) assim lança a seguinte reflexão: "seria algo desesperador, se caminhasses numa planície, com a agradável sensação de estar a avançar, quando na verdade retrocedias. Como porém escalavas uma encosta abrupta, bastante inclinada, conforme por ti mesmo vista de baixo, a causa do retrocesso bem poderia ser devido a disposição do terreno. Não deves desesperar".
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O que posso dizer é que, atualmente, na esteira das narrativas de Kafka, a gente aprende mais através da dor do que pelo amor e eu aprendi a viver um dia de cada vez, sem dúvida, sem me preocupar tanto com essa mísera moeda de favores polutivos que se tornou a palavra "liberdade".
Referências:
ROSZAS, Jeanette. Kafka e a marca do corvo. São Paulo: Geração Editorial, 2009.
KAFKA, franz. 28 desaforismos. Tradução de Silveira de Souza. Florianópolis: Editora da UFSC, 2010.