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domingo, 19 de setembro de 2010

Sobre a atualidade de Rilke

Na semana passada pude participar como conferencista da I Conferência de Estudos sobre o Quotidiano, organizada pelo Grupecj e pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFPB. Apenas posso registrar que foi uma grande honra estar ao lado da professora Drª Tereza Queiroz e da Ms. Patrícia Monteiro. Ambas presenças foram muito enriquecedoras para o esclarecimento de questões ligadas a movimentos urbanos e de gênero no cotidiano urbano. Também gostaria de agradecer a solicitude de todos (as) monitores (as) empenhados (as) em coordenar as mesas e dar a assistência necessária com o equipamento midiático que foi disponibilizado no auditório e ao amigo Daniel Abath. Em especial, conhecer pessoas atenciosas como o professor Wellington Pereira, cujo trabalho sobre crônicas jornalísticas me auxiliou muito ao longo da dissertação e a jornalista Ilana foi muito salutar. Também gostei muito de ter conhecido a professora Drª Nadja Carvalho, extremamente simpática e divertida. As minhas impressões sobre as discussões levadas a cabo no curso de Comunicação da UFPB são as melhores e estas me levaram a re-pensar algumas questões importantes ligadas aos tempos que estamos vivendo.
Bom, mas este tópico seria para falar sobre o poeta Rilke (1875-1926), nascido em Praga, quando esta fazia parte do Império Austro-Húngaro. Melhor especificar... A questão que me urgiu foi a de falar sobre a correspodência de Rilke e não sobre a sua figura. A recomendação que faço para quem gosta de literatura é que, claro, conheçam desde os livros clássicos até os mais obscuros de seus escritores favoritos e, sobretudo, procurem se informar se esses autores tiveram parte ou toda a sua correspondência publicada. Os romances são algo destinados a um grande público leitor, exigente ou não, mas nas cartas, um tipo de escrita pessoal e intíma aflora entre duas pessoas que,possivelmente, jamais imaginariam que estes escritos fossem publicados. Por isso, talvez, nada melhor que conhecer as cartas que um literato escreveu para conhecer melhor suas ideias.
Sendo assim, recomendo a leitura de Cartas a um jovem poeta, de Rilke, traduzido por Pedro Süssekind e publicado pela L&PM. Trata-se de cartas trocadas entre o poeta Rilke e um jovem chamado Franz Kappus que ambicionava ser poeta. Um raciocínio, em especial, me chamou a atenção, feito por Rilke sobre a questão da ironia na escrita. Bom, para o poeta a ironia nunca consegue dar conta daquilo que é realmente grandioso em termos humanos. Diante de assuntos grandes e sérios, ela se torna desamparada. Porém, quando motivada por "coisas sérias" ela poderá ganhar "força (se lhe parecer como algo inato) e se converterá em uma ferramenta séria" (RILKE, 2008, p. 30). É dessa forma que, na literatura brasileira, escritores como Lima Barreto e Machado de Assis conseguiram falar de coisas graves com um tom jocoso que de tão pertinente, continua deixando seus escritos atuais, como a reflexão de Rilke.
Só posso complementar que diante da proliferação de textos prolixos e intelectualmente medíocres, sejam impressos ou virtuais, que assolam estantes e sites, coisas que fariam qualquer Bruna Surfistinha ser digna de uma cadeira laureada na Academia Brasileira de Letras, a atualidade de Rilke fala mais alto. Um historiador que gosto muito chamado Vidal-Naquet já tinha afirmado em Os assassinos da memória, se referindo em relação à aqueles que negam a existência de Campos de Concentração nazistas, que nunca faltará séquito para todo tipo de forma de pensar maldosa e estúpida. É amparado por essas referências que digo que ainda precisamos refletir muito sobre a pertinência contemporânea de Rilke.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

I Conferência de Estudos sobre o Cotidiano


I Conferência de Estudos sobre o Cotidiano (15 a 17 de setembro de 2010)

Universidade Federal da Paraíba
Programa de Pós-Graduação em Comunicação
Grupecj- Grupo de Pesquisa sobre o Cotidiano e o Jornalismo.
I CESQ – Primeira Conferência de Estudos sobre o Quotidiano.


Justificativa:

Em um país de dimensões continentais como o Brasil, a importância de uma conferência anual de estudos sobre o cotidiano se faz premente à medida que a troca simbólica, entre os imaginários da vida cotidiana, pode ser fortalecida a partir de estudos produzidos por pesquisadores das diversas áreas de conhecimento, como uma forma de pensar as nossas culturas através de suas diversas possibilidades metodológicas, estéticas e filosóficas.

A CESQ nasce como um meio de dirimir as distâncias, impostas arbitrariamente, entre as culturas tecnológicas e as culturas populares – pois os estudos sobre o cotidiano procuram não demarcar fronteiras para as manifestações estéticas de um povo, muito menos de uma região em relação aos centros economicamente ricos.

PROGRAMAÇÃO:


15 DE SETEMBRO:

09h00: ABERTURA DO EVENTO
- Coordenador da mesa: Fabiano Silva (Mestre em Sociologia – UFPB)
- Diretora do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes
Prof. Drª. Maria Aparecida Ramos de Menezes
- Coordenador do Mestrado em Comunicação da UFPB
Prof. Dr. Marcos Nicolau
- Coordenador do evento
Prof. Dr. Wellington Pereira


09h30: CONFERÊNCIA DE ABERTURA
- Conferencista: Prof. Dr. Massimo Di Felice (USP)
“Paisagens pós-urbanas, o fim da experiência urbana e as formas comunicativas do habitar”.

11h00: LANÇAMENTO DE LIVROS
- Coordenadora: Carol Porto (Doutoranda em Sociologia – UFPB)

14h30: MESA REDONDA - TEMA: Metodologias do Cotidiano
- Coordenadora da mesa: Geanne Lima Batista (Mestranda em Comunicação e Culturas Midiáticas -UFPB)
- Prof. Dr. Adriano de Leon (UFPB)
- Carol Porto (Doutoranda em Sociologia, UFPB): "A técnica do jornalismo e a estética do cotidiano: o jornalista codificador e decodificador de discursos culturais".
- Patrícia Lins (Mestre em Sociologia, UFPB): "Formas de análises da violência cotidiana na mídia"
- Dayana de Melo (Mestranda em Comunicação, UFPB): "Dos deuses gregos aos deuses midiáticos:mitos e ritos do Olimpo moderno".


16 DE SETEMBRO

08h30: MESA REDONDA - TEMA: Cotidiano e Mídias digitais
- Coordenadora da mesa: Ilana Almeida (Mestranda em Comunicação - UFPB).
- Profª Drª Nadja Carvalho (UFPB) – “Mídia celular, da ficção aos trejeitos no habitar”.
- Daniel Abath (Mestrando em Comunicação, UFPB) - "A regionalização lúdico-midiática: representações da cotidianidade brasileira nos videogames".
- Thiago Marinho (Mestrando em Comunicação, UFPB): "A imagem como diferencial no cotidiano da Web".
- Pablo Peixe (Mestrando em comunicação, UFPB): "Observando e jogando: DOTA e Garena como plataformas digitais de comunicação e socialização".

14h30 CONFERÊNCIA – TEMA: “Pós-humanismo, as relações entre o homem e a técnica na época das redes”.
- Coordenadora da mesa: Amanda Tenório (Mestranda em Comunicação – UFPB)
- Prof. Dr. Massimo Di Felice (USP).


17 DE SETEMBRO

08h30: MESA REDONDA – TEMA: COTIDIANO E INTERSECÇÕES CONCEITUAIS
- Coordenadora da mesa: Luana Câmara (Graduanda em Comunicação e bolsista do Grupecj – UFPB)
- Profª Drª Tereza Queiroz (UFPB): “Juventude, cultura e cotidiano”.
- Joachin Sobrinho Neto (Mestre em História, UFCG): “Cotidiano, exclusão social e crônica jornalística na Belle Époque carioca”.
- Patrícia Monteiro (Mestre em Comunicação, UFPB): “Os contornos do feminino e cotidiano midiático”.
- Viviane Guedes (Mestre em Sociologia, UFPB): “Política, cotidiano e discurso midiático”.


14h30: CONFERÊNCIA – TEMA; “Do público para as redes, a transformação da participação social na época do social network”.
- Coordenadora da mesa: Marina Magalhães (Mestranda em Comunicação– UFPB)
- Prof. Dr. Massimo Di Felice (USP)

18h00: ENCERRAMENTO DAS ATIVIDADES

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

De Albert Camus, com carinho, ao seu mestre.


Em meio ao turbilhão de textos que ando lendo, sejam para o mini-curso que será ministrado durante o II Colóquio Internacional de História da UFCG, para a seleção de doutorado e para o artigo que pretendo publicar, no citado evento, sobre o mercado editorial na Primeira República, não pude deixar de me envolver por um misto de encantamento e rejubilar ao adquirir a obra O primeiro homem do escritor argelino, que muitos insistem em taxar de francês, Albert Camus.
Chama a atenção o fato de O primeiro homem ser uma narrativa autobiográfica, como coloca Manuel Costa Pinto, sobre a impossibilidade da memória. pois o livro traz a tona alguns traços da história familiar do escritor como a morte precoce do pai, durante a I Guerra Mundial; a infância pobre em um bairro de Argel; a figura da mãe descendente de espanhóis surda e analfabeta; o tio toneleiro e a adoção intelectual pelo professor Louis Germain. Talvez ter crescido em meio a esse contexto adverso é que deu a fisionomia do escritor aquela expressão séria, própria de quem exerceu labores extenuantes e pouco remuneradores. Mas o autor de A morte feliz, livro no qual a trama narrativa gira em torno de um personagem que assassina um velho debilitado, com pleno consenso da vítima, e rouba os bens do ancião para viver com a companheira em um chalé à beira de uma praia francesa, na mais tranquila das pazes, desconstruindo, assim, o que considera como um mito covarde e burguês no dizer de que "o dinheiro não traz felicidade", me surpreendeu, mais uma vez, com a carta que escreveu ao seu tutor da infância - após ter recebido o prêmio nobel de literatura - em 1957.
Segue aqui transcrito trechos da carta de Camus ao professor Germain:

19 de novembro de 1957
Caro Monsieur Germain,

Deixei que passasse um pouco o movimento que me envolveu todos esses dias antes de vir-lhe falar-lhe de coração aberto. Acaba de me ser feita uma grande honra que não busquei, nem solicitei. Mas quando eu soube da novidade, meu primeiro pensamento, depois de minha mãe, foi para você. Sem você, sem essa mão afetuosa que você estendeu ao menino pobre que eu era, sem seu ensino, sem seu exemplo, nada disso teria acontecido. Eu não faço questão dessa espécie de honra. Mas essa é ao menos uma ocasião para dizer-lhe o que você foi e é sempre para mim, e para assegurar-lhe que os seus esforços, o seu trabalho e o coração generoso que você coloca em tudo que faz, sempre de maneira viva com relação a um de seus pequenos discípulos que, não obstante a idade, não cessou jamais de ser seu aluno reconhecido. Eu o abraço com todas as minhas forças.

Albert Camus.


A carta e a resposta de Germain foram anexadas a edição de O primeiro homem, pela então viúva do escritor Francine Camus, após o falecimento precoce do autor, em um acidente, no ano de 1960. Portanto, se fez uma literatura ácida, muitas vezes, em relação as atrocidades cometidas pelos colonizadores franceses aos povos árabes, o escritor era dotado também de um indisfarçavel humanismo que aflorava nas mais inóspitas e absurdas situações que narrava.


domingo, 25 de julho de 2010

Mini-curso Nos subterrâneos da modernidade: história, literatura e marginalidade


De acordo com o site oficial do II Colóquio Internacional de História da UFCG, estão abertas as inscrições para participantes dos mini-cursos e dos Grupos de Trabalhos oferecidos pelo evento. O prazo final para inscrições em Grupos de Trabalho e Mini-Cursos é até 21/09/2010. Aproveito para divulgar aos possíveis interessados, entre colegas de ofício e estudantes/pesquisadores de áreas afins, que estarei ministrando, juntamento com os professores Gervácio Aranha e Benjamin Montenegro, o mini-curso Nos subterrâneos da modernidade: história, literatura e marginalidade. Para informações detalhadas sobre as inscrições, basta acessar o hiper-link acima. Segue abaixo a ementa do mini-curso:

Mini-curso 15: NOS SUBTERRÂNEOS DA MODERNIDADE: HISTÓRIA, LITERATURA E MARGINALIDADE.

Coordenadores: Prof. Dr. Gervácio Batista Aranha, Prof. Dr. José Benjamin Montenegro e Prof. Ms. Joachin de Melo Azevedo S. Neto


A presente proposta de Mini-Curso visa discutir, no âmbito geral, o processo de modernização e suas dimensões excludentes. Para tal abordagem tornar-se possível, entrará em pauta o debate acerca das dimensões políticas da escrita e suas implicações históricas. Ao carregarem suas penas com as tintas do desencanto, da denúncia e do ressentimento, determinados literatos, na Europa, como Charles Baudelaire, Proust, Dostoiévski, Bakunin, Charles Dickens ou, no caso do Brasil, Lima Barreto, Machado de Assis e João do Rio imprimiram, no papel, várias experiências subterrâneas que remetem as memórias de uma modernidade segregadora, dantesca e criminosa. Por via das vezes, a experiência social da humilhação e da pobreza manifesta-se simbolicamente na prática da escrita. É gestado, assim, um testemunho que caminha na contramão do que está estabelecido pelos discursos oficiais de uma determinada época. Este mini-curso versará sobre as potencialidades históricas que estes testemunhos literários possuem.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Recomeçando!

Bom, estou aqui mais uma vez reiniciando este trabalho, um tanto quanto catársico, que é manter um blog. Creio que já possuo alguma experiência com esse labor, as vezes ingrato. O último que deixei naugrafar no mar de quinquilharias da web foi o "Bar das Sequelas". Bom, em uma longa nota que explicavam minhas razões para pular fora do barco, aleguei que diante de diversas experiências que vivenciei, passei a achar que um bar cheio de sequelas não é lá um local tão edificante assim. O "bar das sequelas" foi transformado em "Clandestino Pensar" em uma nítida alusão as formas de literatura que eram produzidas no século XVIII que eram proibidas pelo absolutismo por veicularem um conteúdo que, segundo o historiador Robert Darnton, contribuía para dessacralizar as hierarquias sociais entre nobres e plebeus na Europa e, especialmente, na França.
Bom, o "Clandestino Pensar" agora reside na inércia. Como meu antigo login e senha do gmail foi hackeado por algum desocupado, eu tanto perdi o acesso a meu antigo e-mail bem como ao meu blog. O fato é que as antigas postagens estão todas lá, embora, parece que ,antevendo que algo iria dar errado, eu fiz uma verdadeira limpeza no blog retirando de lá alguns posts que possuíam um teor em torno dos quais eu já não nutria qualquer afinidade ou razão para defendê-los.
Semântica dos Tempos é um blog cujo título foi inspirado no título do livro do historiador Reinhart Koselleck chamado Futuro passado: contribuição à semântica dos tempos históricos (2006), traduzido por Wilma Patrícia Maas e Carlos Almeida Pereira. Não pretendo resenhar a obra, mas apenas expressar que é uma das minhas favoritas em critérios de rigor e densidade historiográfica. A discussão feita por Koselleck em torno da convivência do passado - manifestada sob o conceito de experiência - com a modernidade, ao mesmo tempo em que se abrem as possibilidades para o futuro - conceituado pelo historiador como horizonte de expectativa - é simplesmente magistral e serve como um balde de água fria na cabeça de quem gosta de delimitar rigidamente as experiêcias temporais em antigo, moderno, pós-moderno e blá, blá blá. Na verdade, tudo isto ainda está muito emaranhado e é preciso parar de pensar que as experiências passadas serviram apenas para determinar o presente. Ora, é preciso tornar o nosso próprio conceito e noção de presente mais indeterminado.
Por hora é isso. Pretendo aqui falar das coisas que gosto e quem sabe até de pessoas que gosto também. Aqui estamos, mais uma vez, flutuando entre os detritos virtuais da web, mas com uma série de boas intenções. Obrigado pela sua preciosa atenção, caros (as) leitores (as) e um bom fim de semana!