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De início, vale ressaltar que o livro conta com um atencioso prefácio do historiador italiano Carlo Ginzburg cuja trajetória intelectual, repletas de consistentes contribuições a historiografia contemporânea, foi amplamente explorada por Henrique Espada. É o próprio Ginzburg (In: Espada Lima, 2006, p. 09) que afirma ter se deparado com "elementos novos graças á distância cultural, geográfica e geracional de Espada Lima em relação ao tema de sua pesquisa". Em Olhos de madeira: nove reflexões sobre a distância, Ginzburg já havia refletido sobre como posturas metodológicas guiadas pelo estranhamento e distanciamento podem ser profícuas para os historiadores. No caso do livro de Henrique Espada, o potencial dessa postura é evidenciado com força total.
Muitos pesquisadores e pesquisadoras que articularam a revista Quaderni Storici, na qual estão publicadas os principais ensaios e artigos referentes a consolidação da microhistória como uma das mais promissoras vertentes historiográficas do século XX, permanecem obscuros para toda uma leva de jovens historiadores brasileiros a qual pertenço. Ao longo da graduação e mestrado, é comum nos depararmos apenas com textos de Carlo Ginzburg e Giovanni Levi quando vamos pensar sobre a microhistória italiana. Nesse sentido, a evocação de nomes como o de Edoardo Grendi, Alberto Caracciolo e da historiadora ligada aos estudos feministas Luisa Accati, dentre muitos outros, que aparecem ao longo de A micro-história italiana merece ser evidenciada.
Esse mosaico de estudiosos leva a percepção de que, embora o grupo intelectual que publicava nos Quaderni Storici partilhasse de opções políticas em comum, como o feminismo e o socialismo, os interesses historiográficos de cada um desses estudiosos eram bastante heterodoxos entre sí. É coerente afirmar que a militância em partidos socialistas e grupos feministas irá influenciar no interesse em se pesquisar o cotidiano dos pobres e das mulheres na Itália medieval e pré-moderna, porém cada integrante do Quaderni Storici realizará essa empreitada de forma muito peculiar e própria.
Outro grande mérito das discussões levantadas por Henrique Espada é consequência do seu percurso metológico: ao cartografar os exemplares dos Quaderni Storici em acervos de instituições como a Biblioteca Minicipale Benincasa de Ancona; Biblioteca Comunale di Milano e da Bilioteca Nazionale Universitaria di Torino, o autor de A micro-história italiana: escalas, indícios e singularidades traduziu para o português citações de textos de Carlo Ginzburg, Carlo Poni, Giovanni Levi, Edoardo Grendi e Luisa Accati que, com certeza, se não fosse devido as suas inquietações, ainda permaneceriam como desconhecidos para a grande maioria de historiadores do Brasil. Assim, sem dúvidas, os textos agradáveis e criteriosos de Henrique Espada podem ser considerados como indispensáveis para as aulas de Historiografia e Teoria da História que versem sobre a importância da microhistória italiana no panorama nacional.
Referências:
ESPADA LIMA, Henrique. A micro-história italiana: escalas, indícios e singularidades. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.