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quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Entrevista sobre Lima Barreto

Segue abaixo o vídeo com a entrevista que dei para a TV Itararé, filial da TV Cultura em Campina Grande, sobre o teor do livro Uma oura face da Belle Époque carioca: o cotidiano nos subúrbios nas crônicas de Lima Barreto. Agradeço, mais uma vez, a Itararé pelo espaço cedido e a acolhida.

Aproveito para desejar aos frequentadores desse espaço, um feliz natal e próspero 2012. Pessoalmente, eu só posso dizer que não existe alegria maior para mim do que estar de férias na Paraíba, desfrutando do calor humano e dessa rica cultura regional, que faz, sem dúvida, o Brasil cada vez mais brasileiro.


sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Lançamento do livro Uma outra face da Belle Époque carioca na UFCG


Gostaria de convidar os (as) historiadores (as) e estudiosos da literatura interessados no tema, bem como os discentes e docentes que atuam na UEPB, na UFCG, UVA e UFPB e que estarão em Campina Grande - onde mal posso esperar para pisar novamente no solo da cidade e encher meus pulmões com sua atmosfera acolhedora, cosmopolita e agradável - para o lançamento do livro Uma outra face da Belle Époque carioca: o cotidiano nos subúrbios nas crônicas de Lima Barreto, editado pela Multifoco. Na ocasião, estarei proferindo a conferência "Charles Dickens e a literatura fotográfica", que versará sobre as dimensões retóricas das imagens e pictóricas e ilustrativas da literatura.


Local: Auditório da Biblioteca da Universidade Federal de Campina Grande
Horário: das 20:00 ás 21:30 hs.
Data: 07 de dezembro de 2011 (quarta-feira)

terça-feira, 8 de novembro de 2011

A universalidade de Macunaíma


A obra Macunaíma foi escrita em seis dias de trabalho, em dezembro de 1926 e publicada em 1928. Macunaíma logo se transformou no livro mais importante do nacionalismo modernista brasileiro. Os amigos de Mário de Andrade, ao lerem o manuscrito, tiveram a impressão fulminante de estarem segurando uma obra-prima.

Para Gilda de Mello e Sousa (1979, p. 11), Macunaíma foi escrita a partir de um método que entrecruzou uma rede de textos pré-existentes ligados as tradições orais, eruditas, populares, europeias e brasileiras.

A estética que atravessa toda a narrativa de Mário de Andrade remete a uma apropriação realizada pelo escritor da análise do fenômeno musical e do processo criador do populário. Por meio da mistura entre tendências presentes tanto na arte internacional, quanto na arte brasileira, Andrade mergulhou no universo da música e da imaginação coletiva, bem como em questões levantadas pela etnografia, folclore e psicanálise. Macunaíma, desta forma, foi escrito a partir de uma série de reflexões teóricas sobre a criação popular e a música brasileira.

Mário de Andrade publicou o livro Danças dramáticas do Brasil e o Ensaio sobre a música brasileira. Em Danças dramáticas do Brasil afirma que a música popular é um documento vivo de nossa mistura étnica. Para Andrade, a música popular do Brasil brotou da mistura de elementos rítmicos de Portugal, da África e da Espanha com as expressões musicais brasileiras. Nas palavras do próprio escritor, essa bricolagem entre o erudito e o populário encontra seu ápice na mistura entre teatro dramático, dança e música profana que ocorre na versão pernambucana do Bumba-meu-Boi.

Macunaíma é composto, portanto, da unção híbrida de peças como anedotas tradicionais da História do Brasil; incidentes curiosos presenciados pelo escritor; transcrições textuais de etnógrafos, de cronistas coloniais e frases célebres de grandes vultos da história com um processo retórico que tinha a intenção de criar “sonoridades curiosas” e “cômicas”. Portanto, para Mello e Sousa (1979, p. 22), “o exemplo mais perfeito deste processo parasitário de compor, típico do populário, seria encontrado por Mário de Andrade no improviso do cantador nordestino”.

Os cantadores de embolada e repentes compõem se valendo do seguinte método: cantam uma melodia que não é sua e que a decoram com falhas de memória. Em segundo, tecem uma série de variações subjetivas sobre o conteúdo original da melodia de modo que essa música original se torne fácil e vulgar. Por último, começam a fantasiar objetivamente sobre a melodia para variar e ampliar seus significados. Assim, os cantadores de coco e repente não são gênios iluminados do improviso, mas profissionais que se preparam longamente para a prova, armazenando na cabeça uma quantidade extensa e variada de conhecimentos, recolhidos nas fontes mais diversas: no Novo e Velho Testamento, na Arte da Gramática, em manuais de Álgebra, dicionários de Fábulas, livros de Mitologias e de Astrologia, em romances de literatura de cordel. Desse modo, a elaboração de Macunaíma encontra-se ligada à profunda experiência musical de Mário de Andrade, baseada em pesquisas sobre a circularidade entre cultura erudita e popular.

Mário de Andrade construiu uma verdadeira utopia geográfica presente em trechos como o episódio no qual Macunaíma sobrevoa o Brasil em um aeroplano e descortina, do alto, o mapa do país. Assim, esse quadro revela um desejo profundo de Mário de Andrade em buscar um denominador comum que estabelecesse um nexo entre o universo urbano do Sul/Sudeste e a cultura agrária e barroca do Norte/Nordeste.

Assim como Mário de Andrade analisou as analogias entre a música europeia e as manifestações rítmicas populares, indígenas e africanas, a obra Macunaíma possui um núcleo central firmemente europeu embora em tensão constante com o uso de expressões coloquiais, indígenas, afros e regionais que tentam emprestar a narrativa um aspecto selvagem. Ora, é inegável que Macunaíma remete também a uma retomada satírica do romance de cavalaria - a lá Dom Quixote, de Cervantes - e a tradição literária de Rabelais, na Idade Média, na qual o grotesco, a paródia e o detalhe obsceno gestavam uma visão carnavalizada do mundo, ocorrendo uma vitória simbólica do riso sobre a seriedade, o medo e o sofrimento.


Referências:

ANDRADE, Mário de. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter. Rio de Janeiro: Agir, 2007.

MELLO E SOUSA, Gilda de. O tupi e o alaúde: uma interpretação de Macunaíma. São Paulo: Duas Cidades, 1979.


sábado, 22 de outubro de 2011

As flores do mal: um livro sujo?

Não é novidade afirmar que o escritor francês Charles Baudelaire foi um daqueles poucos notáveis que ao manter uma relação visceral com sua época produziu uma literatura margeada pela autenticidade. Ao romper com a poesia convencional e com a alta subjetividade romântica, Baudelaire acreditava que a arte era fruto de múltiplas trocas entre a paisagem, o artista e o consumidor.

Apesar de possuir uma origem abastada, o escritor teve uma relação conturbada com a mãe e o padrasto: o tenente-coronel Jacques Aupick, “homem decente e civilizado", conforme podemos deduzir e que preocupou-se com o destino dos bens da família dada a inclinação do jovem Baudelaire para participar de noites de bebedeiras e frequentar bordéis parisienses, no melhor estilo decadent. Em termos de preferências políticas, apesar de ser republicano e participar das barricadas em 1848, Baudelaire irá desencantar-se - com toda razão - com o liberalismo e ser perseguido por causas dos poemas que reuniu sob o título de As flores do mal pela censura de Napoleão III.

O fato do escritor ter ido parar com As Flores do Mal no banco dos réus teria sido causado por uma preocupação oficial em relação ao teor erótico dos poemas ou ao teor político? O historiador Peter Gay, em Marginais por profissão, reforça a interpretação do procurador da República em relação aos poemas do escritor, ao analisar apenas as estrofes mais obscenas dos versos. A postura que eu acredito ser a mais sensata é de que As flores do mal possuíam sérias implicações políticas não apenas travestidas de erotismo. Segundo Dolf Oehler (1999, p. 274-50, em O velho mundo desce aos infernos, durante o julgamento de Baudelaire, “quer se trate de generosidade, estupidez ou cálculo, foram totalmente ignoradas as implicações de crítica social dessa lírica”.


Quem era o hipócrita leitor que Baudelaire chamou de irmão no primeiro poema de As flores do mal? Trata-se de uma fina ironia destinada ao público que consumia poesia na Paris oitocentista: os burgueses. Para Oehler (1999, p. 293), “o satanismo de Baudelaire é sobretudo uma resposta ao discurso contemporâneo da consciência limpa, ao cinismo inconsciente, a mentira cândida do homem de bem, a quem ele combate (...)”. O satânico Baudelaire estava falando do mal não a partir da perversão sexual, mas a partir de “observações da psicologia individual” e de “experiências históricas”.

Mas também para este curioso leitor, uma das maiores lições deixadas por Baudelaire para nosso século brotou justamente da sua entrega aos ditos paraísos artificiais como o haxixe e o ópio. Esses agentes atuavam como gatilhos que conseguiam entrelaçar o onírico com a vigília, isto é: os sonhos com o real. Assim, o delírio e a divagação, para Baudelaire, também eram fontes de saber. Um saber pautado não na racionalidade, mas no próprio dilaceramento da racionalidade. Um saber noturno e não iluminista, cujas premissas acabaram fascinando um dos maiores filósofos do século XX: o alemão Walter Benjamin.


Referências:

BAUDELAIRE, Charles. As flores do mal. Tradução, introdução e notas de Ivan Junqueira. Edição biligue. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

GAY, Peter. Marginais por profissão. In: Modernismo: o fascínio da heresia de Baudelaire a Beckett. Tradução de Denise Bottmann. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

OEHLER, Dolf. O velho mundo desce aos infernos: auto-análise da modernidade após o trauma de junho de 1848 em Paris. Tradução de José Marcos Macedo. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.