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sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Companhia das Letras lança os contos completos de Lima Barreto

A editora Brasiliense foi a pioneira em lançar as obras completas do escritor carioca Lima Barreto. Recentemente, pela Editora Agir, com organização de Beatriz Resende e Rachel Valença, em 2004, saíram dois grossos volumes, cada um com cerca de 500 páginas, com todas as crônicas do literato. Nesses dois volumes, ao longo da escrita de minha dissertação de mestrado, intitulada Uma outra face da Belle Èpoque carioca: o cotidiano nos subúrbios nas crônicas de Lima Barreto (2010), pude analisar o autor de Triste fim de Policarpo Quaresma enquanto um intérprete da modernidade carioca que, ao denunciar, por meio da escrita jornalística, a dimensão excludente do processo de modernização do Rio de Janeiro, dotou seus textos de uma atualidade desconcertante. No citado trabalho, umas das conclusões que cheguei é de que:

Ao tomar partido abertamente pelas causas políticas de vanguarda, – como o anarquismo e o socialismo humanitário – Lima Barreto idealizou uma literatura militante, comprometida com o desvelamento das distorções sociais, que eram estabelecidas para favorecerem as elites, e que alimentava uma profunda ternura em relação às dores e dificuldades vividas por marginais, trabalhadores, excluídos e perdedores.65 Em Todos os Santos, travou contato com todos esses personagens anônimos da história e construiu representações riquíssimas dos subúrbios cariocas; verdadeiras cartografias sentimentais da cidade, marcadas por uma linguagem afetiva que dotou os espaços urbanos destinados ao morar e conviver popular de uma profundidade psicológica própria. (AZEVEDO S. NETO, 2010, p. 133)

Enquanto me preparo para dar início aos estudos que irão culminar com a escrita de uma tese de doutorado, a ser defendida na UFSC, ando buscando o devido apoio para a publicação deste trabalho que, com certeza, foi realizado com o intuito de fornecer alguma contribuição para os círculos de debates sobre este escritor, acima de tudo, brasileiro. Bom, mas gostaria mesmo era de compartilhar, por aqui, o lançamento da Companhia das Letras: trata-se de uma edição com todos os contos do Lima, organizada por Lilia M. Schwarcz - importante antropóloga que vem estudando, dentro de uma perspectiva histórica, o papel e os discursos sobre os negros ao longo da história nacional. Cada conto escrito por Lima Barreto tem muito a revelar ao leitor sobre a sociedade brasileira de ontém e a de hoje, por isso não devem ser lidos pelos chamados burocratas da literatura, mas por aqueles que tem a consciência de que em uma realidade ainda tão díspare entre classes letradas e iletradas, como a de nosso país, o exercício da escrita deve correr na direção dos dramas cotidianos vividos pela grande maioria de nossa população.


Referências:

AZEVEDO S. NETO, Joachin de Melo. Uma outra face da Belle Èpoque carioca: o cotidiano nos subúrbios nas crônicas de Lima Barreto. Campina Grande: UFCG, 2010. Dissertação (Mestrado)

BARRETO, Lima, 1881-1922. Contos completos. organização e introdução de Lilia Moritz Schwarcz. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

2 comentários:

  1. Joachin, bacana sua postagem. Sou um admirador nato do Lima Barreto, e realmente, essa reunião dos contos completos do LB pela Companhia das Letras foi muito bem cuidada. Fui presenteado com um exemplar no Natal, mas ainda não tive tempo de lê-lo.

    A priori, muito interessante você ser da história e estudar essa relação da literatura com a sociedade. Bem, sucesso no doutorado na UFSC. Começo um mestrado na UEPG, minha dissertação vai trabalhar com João Antônio e Lima Barreto e seus diários.

    abraxx.

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  2. Olá, Bruno! Seu trabalho vai ficar muito bom, porque ambos são grandes literatos e João Antônio tem muita influência de Lima. Olha, procura pelo livro João Antônio, repórter de Realidade do professor Carlos Azevedo da UEPB. Tem também a tese dele chamada Hibridismo e ruptura de gênero em João Antônio. Abraço!

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