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sexta-feira, 6 de maio de 2011

Roland Barthes e os rumores do pós-estruturalismo


Roland Barthes nasceu em Cherbourg, região costeira da França, em 1915 e veio a falecer em Paris, em 1980, vítima de um atropelamento. Formado em Letras Clássicas, Gramática e Filosofia, ganhou visibilidade inicialmente enquanto intelectual estruturalista, ligado ao pensamento do lingüista Saussure. Talvez iniciar uma fala sobre Barthes ressaltando, de forma breve, sua trajetória biográfica seja, justamente, estar na contramão do pensamento daquele que professou a morte do autor. Porém, como também nos ensinou outro grande pensador francês, chamado Michel de Certeau e igualmente ligado a Lingüística, a escrita é indissociável de um dado lugar social.


É interessante salientar que a trajetória intelectual de Barthes foi marcada por uma reviravolta teórica quando ele criticou a teoria literária de meados do século XIX que exaltava a biografia e a historicidade da obra e que no final do século tornou-se intimista, quando a obra era interpretada pelo seu viés psicológico e a ânsia estruturalista, do começo do século XX, em homogeneizar todas as coisas em categorias, inclusive, os textos. Ao realizar esse movimento autocrítico em relação a sua atuação no estruturalismo, Barthes recontextualizou sua obra e foi enquadrado no rol dos críticos pós-estruturalistas. É dentro desse quadro de renovação que o conjunto de ensaios, reflexões e provocações reunidos sob o título de O rumor da língua foi publicado, na França, em 1984.


Em A morte do autor, Barthes inicia seu ensaio citando a novela Serrasine, de Balzac. Até que ponto os personagens seriam representantes do pensamento do escritor? Para Barthes, é preciso pensar a escrita como o campo da performance e não da genialidade. O autor é uma construção moderna e o positivismo foi a corrente intelectual que conferiu maior importância a autoria, em um momento de supervalorização do prestigio individual. Barthes critica, portanto, a relação feita entre vida do autor e texto. É a linguagem que fala, não o autor.


Mallarmé e Proust vão ser os pioneiros, na literatura, em buscar priorizar a linguagem ao invés da autoria. O surrealismo também contribuiu para a dessacralização da figura do autor. Para Barthes, o livro não é gestado antes de sua escrita. Todo ato de escritura é uma prática perfomática, ou seja: é um ato que reside no espaço do aqui e agora. O autor é responsável por misturar as escritas, fazendo uma bricolagem de textos diferentes. Deste modo, um escrito remete a outro, em uma intertextualidade infinita. Thomas de Quincey usava um complexo dicionário de grego clássico para escrever. Essa constatação, para Barthes, evidencia a inexistência entre escrita e vida. O escritor não escreve a partir de suas impressões e sentimentos, mas de imitação de signos já emitidos.


Essas reflexões de Barthes foram decisivas para o surgimento das teorias da recepção, que valorizavam o papel do leitor e da leitura no campo da literatura. A postura polêmica do autor e sua escrita repleta de sensualidade, marca de um estudioso fascinado pelo Marquês de Sade, também demonstram que é possível pensar filosoficamente e cientificamente sem se valer de uma linguagem asséptica. Enfim, usar Barthes como guia para incursões na teoria da literatura e da linguagem é permitir-se estar na companhia de um pensador para o qual o saber deveria possuir um sabor.


Referências:


BARTHES, Roland. O rumor da língua. Tradução de Mário Laranjeira. São Paulo: Brasiliense, 1988.


P.S.: Este post é um fragmento de um pequeno esboço de ensaio que elaborei sobre Barthes para apresentar no Seminário Temático da disciplina Teoria e Metodologia da História II, no doutorado, sob a coordenação da Profª. Bernardete Flores.


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